domingo, 4 de setembro de 2011

XI- Lisboa, cheia de encantos e beleza

Até recentemente, em meus planos de viajar pela Europa, sozinha ou não, Portugal não se incluía. Acho que também nos planos de muitos brasileiros, ainda que tantos de nós tenhamos comemorando a bonita festa do dia 25 de abril de 1974, que ficou conhecida como a “Revolução dos Cravos”, merecendo até uma música de Chico Buarque (Tanto Mar). Tantas léguas, tanto mar a nos separar até que, há três anos, para enorme felicidade, aterrisei em Lisboa.
A primeira impressão, logo no aeroporto, se você é um mero CPLP (Cidadão de Países de Língua Portuguesa) e não um privilegiado CPCE (Cidadão de Países da Comunidade Européia), talvez não seja muito boa. Uma fila enorme, que não anda, exatamente porque esses passageiros são os mais questionados pelos funcionários/policiais que os atendem e concedem o visto de entrada no País. Afinal, existem milhares de brasileiros e africanos (provenientes de antigas colônias portuguesas na África) em situação irregular em Portugal.
Pois bem, passado esse primeiro stress, relaxe e comece a curtir a velha cidade que, realmente, é cheia de encantos e beleza. Antes, contudo, uma recomendação: o humor dos portugueses é um tanto peculiar, digamos, bem diferente da irreverência, às vezes um tanto exagerada dos turistas brasileiros. Dois cuidados com os motoristas de táxi: 1) a menos que eles lhe dêem total abertura, não vá lhes perguntando o que é isso, o que é aquilo, para não correr o risco de receber como resposta a de que o serviço não inclui um guia de turismo; 2) em nenhuma hipótese, chame-o de “moço”, pois ele ficará realmente ofendido. Aliás, não chame nenhum profissional de “moço”, pois isso quer dizer que ele é um aprendiz, que não tem experiência adequada para exercer a profissão, que é um subalterno, enfim, esqueça a palavra.     
A melhor época para conhecer Portugal é de maio a setembro. Os meses de julho e agosto são os mais quentes e os mais caros. Em abril e outubro, as condições meteorológicas são mais instáveis, sua viagem pode ser comprometida pelo mau tempo. De novembro a março os preços são menores, mas as chuvas são constantes, e sempre acompanhadas por muito vento e frio.
Identidade
A coisa mais forte que senti, logo de cara, foi a identidade. Como se aquela cidade, aquele mundo, fizesse parte de minha própria história (e faz). Eu estava na Europa, falando português. Às vezes me sentia no centro do Rio de Janeiro, às vezes em Salvador, Recife, São Luís do Maranhão, Ouro Preto, ladeiras, calçadas, comidas, nomes de localidades que me lembravam o Brasil, como Alcobaça e rua Augusta. Estava em casa. Como me ressenti da falta de atenção nas aulas de História, nos tempos da minha infância e juventude.
Um amigo me pediu algumas dicas sobre lugares a serem visitados em Lisboa, motivando-me a escrever esse texto. Vou, então, tentar resumir o que faria em quatro dias, é óbvio, sem esquecer as indicações dos guias turísticos.

Primeiro dia: Restauradores, Rossio (na Baixa) e Chiado

O tradicional Café "A Brasileira"

Desça, de preferência pela Av. Liberdade, desde a Praça Marquês de Pombal, em direção à Baixa, tomando contato com a cidade velha. Se estiver com fome, pare na Pastelaria Suíça (na Praça D. João IV), que, na verdade, é um enorme restaurante, com mesinhas na calçada, de onde você poderá, prazerosamente, ver a vida passar, tomando um chope bem gelado e comendo uma porção de bacalhau, de vários tipos, a preços de pratos executivos.

O por do sol é fantástico no Miradouro
Depois, siga pela rua Augusta até o portal (Arco do Triunfo) que dá acesso à Praça do Comércio, onde o Tejo se mostra com toda sua grandiosidade. Nessa praça existe um Posto de Informações Turísticas e por ela passam muitas linhas de ônibus e troleibus que vão para vários partes da cidade. Em seguida, volte pela rua Augusta e suba pelo Elevador de Santa Justa, ou à pé, para o Chiado[1]. Primeira parada, o belo e tradicional café “A Brasileira” (rua Garret, 120), fundado em 1905, e que foi um secular ponto de encontro de intelectuais portugueses, entre eles Fernando Pessoa, cuja estátua foi erguida no local. Nas proximidades, a praça Camões e as ruínas da Igreja do Carmo, que resistiu ao grande terremoto de 1755, considerada o símbolo de Lisboa. Finalmente, desça em direção ao Miradouro de Santa Catarina[2], pela rua que tem o mesmo nome. Um lugar meio alternativo, bastante freqüentado por jovens, no final da tarde, de onde se pode apreciar o belíssimo por do sol no Tejo e tomar uma ótima cerveja gelada, vendida em um único quiosque. No local existe a Estátua do Adamastor (figura criada por Camões, nos Lusíadas), e por isso o local é também conhecido como Miradouro do Adamastor.
À noite, suba para o Bairro Alto, nunca antes das 21 horas. Os táxis vão lhe deixar em uma praça[3] de onde você subirá dois ou três quarteirões onde se concentram cerca de 200 bares e restaurantes. Não se preocupe ao fazê-lo, pois este é, também, um bairro residencial. As opções para jantar são muitas, e também de casas de fado (eu nunca entrei em uma delas).  E, para finalizar, vá ao bar Portas Largas (rua Atalaia, 103-105).
Acho que esse bar é gerenciado por uma brasileira, com sotaque nordestino, que administra o local com mão de ferro. O lugar, que já foi um ponto tradicional, internacionalmente conhecido por ser exclusivo do público GLT, atualmente é freqüentado por qualquer tipo de pessoa, não importando a opção sexual. Ali, o chope é gelado e os drinks são bem feitos. O difícil é encontrar lugar para sentar.

Segundo dia: Castelo São Jorge, Alfama e passeio de barco pelo Tejo.
 Alfama é um bairro que merece um bom tempo para se conhecer. Existem vários pontos turísticos sendo que, no ponto mais alto, está o Castelo de São Jorge. A edificação ergue-se em posição dominante sobre a mais alta colina do centro histórico (111 metros acima do nível das águas do Tejo), proporcionando aos visitantes uma das mais belas vistas sobre a cidade. Pode-se descer à pé, parando em algum restaurante para tomar um delicioso caldo[4], acompanhado de pão e uma encorpada taça de vinho o que, simplesmente, substitui o almoço.
Se estiver com tempo, faça um tour de barco pelo Tejo. O passeio mais comum percorre o trecho entre as duas principais pontes: a 25 de abril (inaugurada em 1966, com o nome de Ponte Salazar), uma das maiores pontes suspensas da Europa, e a Ponte Vasco da Gama, com cerca de 17 km de comprimento. O passeio é longo, mas tem-se uma vista linda de toda a cidade. Os barcos saem de um local próximo à Praça do Comércio, em horários variados e com preços diversificados.
Voltando pela rua Augusta até o Rossio você chega ao Largo São Domingos, n. 8, onde está a famosa “Ginginha”, um lugarzinho onde se vende uma cachaça feita à base de uma fruta chamada Ginja. Nesse Largo, existe um monumento ao massacre dos judeus em Lisboa, em 1506, e é também um ponto de encontro das comunidades africanas que vivem em Lisboa.
À noite, uma alternativa é buscar no hotel a indicação de uma boa casa de Fado, em Alfama, onde estão concentradas as melhores opções, as quais, inclusive, inspiraram o cineasta espanhol Carlos Saura, em seu filme "Fado".

Terceiro dia: Belém e adjacências.

Reserve um bom tempo para o Mosteiro
De ônibus ou trem, chegar a Belém é facílimo, pois é muito perto do centro de Lisboa. A primeira parada, é o Mosteiro dos Gerônimos, considerado patrimônio mundial pela Unesco e, em julho de 2007, foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal. O lugar é maravilhoso, sendo que em um dos salões existem painéis alusivos ao que acontecia ao longo dos séculos no mundo, em Portugal e, a partir de 1500, no Brasil. É como se a gente visse toda a nossa história se desdobrando diante de nossos olhos. Quase ao lado do Mosteiro dos Jerônimos, fica o interessantíssimo Museu Nacional dos Coches.
Em Belém, existem vários outros pontos turísticos, como a Torre de Belém, o Palácio de Belém e o local onde se vende o famoso Pastel de Belém. Dependendo da época, você ficará muito tempo na fila para comprar a iguaria. Eu, particularmente, não achei que isso fosse tão importante, mas... Logo em frente, do outro lado da rua, existem dois bons restaurantes, onde se oferece boa comida, a preços razoáveis.
De Belém, é fácil seguir para Estoril ou Caiscais, de trem, mas só vale a pena se for verão. As praias não chegam nem aos pés das brasileiras, a água é gelada, e tudo é muito caro. O aluguel de uma barraca de praia no Estoril, por exemplo, fica em torno de 9€.
Uma sugestão para a noite, é ir a um dos restaurantes que ficam na rua das Portas de Santo Antão, bastante movimentada, próxima ao Rossio,

Quarto dia: Sintra, Évora ou Parque das Nações
De trem, é possível ir e voltar no mesmo dia a Sintra e visitar alguns de seus lugares maravilhosos e românticos como o Castelo dos Mouros e o Castelo da Pena. Da mesma forma, outro lugar imperdível é Évora, na região do Alentejo, onde fica a famosa Capela dos Ossos. Em ambos os locais, os vestígios da influência dos árabes na Península Ibérica, onde permaneceram por cerca de 800 anos. Os núcleos históricos de ambas as cidades são incrivelmente parecidos com Ouro Preto, só que menos rústicos.
Caso você não queira sair de Lisboa, uma ótima opção é conhecer o lado moderníssimo da cidade e visitar o Parque das Nações, uma zona nobre de Lisboa, onde foi montada a “Expo 98”[5]. O local oferece inúmeras atrações, como o Oceanário, o Pavilhão da Realidade Virtual, o Pavilhão do Conhecimento; ver concertos ao vivo no Pavilhão Atlântico; andar de teleférico; fazer compras no Centro Comercial Vasco da Gama.


[1] Eu subiria à pé pois, no caminho, existem umas lojas muito interessantes.
[2] Conta-se, segundo a Wikpedia, que foi deste miradouro, junto ao Chiado que o general francês Junot assistiu impotente à partida da frota transportando a família real portuguesa para o Brasil, em novembro de 1808. Daí a expressão popular, sinônima de frustração: «ver navios do Alto de Santa Catarina».
[3] Guarde bem o local, pois é para onde você se dirigirá para pegar o táxi de volta para o hotel.
[4 Os caldos, de diversas variedades, oferecidos em qualquer restaurante, são deliciosos, baratíssimos e muito substanciais, podendo, perfeitamente, substituir o almoço.
[5] A EXPO'98, ou, oficialmente, Exposição Internacional de Lisboa de 1998, realizou-se em Lisboa, de 22 de Maio a 30 de Setembro de 1998. O parque foi construído sob o tema "Os oceanos, uma herança para o futuro" e contou com a participação de cerca de 142 países e organizações internacionais.

10 comentários:

  1. Olá... Estive visitando Portugal por 25 dias em outubro/2012 e posso dizer que amei de paixão. Alguns lugares acabei não visitando. Mas, descobrindo o seu blog, me fez querer retornar lá e a outros países também. Estou adorando o blog. Isso está me incentivando a minha próxima viagem de 2013, que com certeza será Europa. Abraços.

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    1. Que bom! Eu amo Portugal, e a Europa, no ano que vem também quero voltar.
      Abraço,
      Giselle

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  2. Estou indo a Lisboa neste mês. Tenho 60 anos. Vou sozinha. Seu site está me ajudando bastante.
    Obrigada,
    Ilza.

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  3. FUI A LISBOA EM 2013 FIQUEI APAIXONADA, ESTOU VOLTANDO EM 2014,SOZINHA ESTOU COM MUITO MEDO POIS NUNCA VIAJEI SOZINHA.

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    1. Oi, Dejanira!! Estou indo agora em junho (14 a 25); chego a Lisboa dia 14 e vou conhecer as outra cidades. No dia 20 vou para Paris, casa da irmã do meu cunhado. Fico até dia 23 pela manhã. Volto 23 para Lisboa e viajo de volta para o Brasil dia 25.
      Não tema, vai dar tudo certo. Siga as dicas da Giselle e aproveite! Eu costumo viajar sozinha, mas sempre tenho amigos para os locais de vou. Desta vez, só terei cia em Paris, que já conheço. Essa será a terceira vez que vou.
      Quais são suas datas? Quem sabe nos encontramos em Lisboa, Porto, Fátima...
      Abraços,
      Cristina

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    2. Olá a eu querendo cia pra ir Portugal...

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    3. Dejanira, eu gostaria muitk de conhecer Portugal. Ir e. Fin junho...quem sabe poderíamos ir juntas?

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    4. Tenho 50 anos e fui à Europa no ano passado com amigos. Estou querendo ir sozinha para Portugal e Espanha. Mas, tenho receio!

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    5. Oi Madalena, Portugal e Espanha, tudo de bom. Tem um livro da Danusa Leão (não me lembro agora) que tem ótimas dicas. Pode ir tranquila. Bj.

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