terça-feira, 11 de outubro de 2011

XII- A Provence é tudo de bom

Meio dia em Paris
Mais uma vez enfrentei meu medo de avião e cruzei o Atlântico. Nove horas até Lisboa e, logo em seguida, mais umas duas horas rumo ao meu destino. Primeiro Paris, depois descer de trem até Nice, passando pela Provence.
 No total, foram 15 dias de viagem pela França, permanecendo três ou quatro em cada lugar: Paris, Avignon, Aix en Provence e, finalmente, Nice, na Côte d’Azur. Uma viagem um tanto puxada para uma mulher (já naquela faixa de idade que a gente prefere não comentar) viajando sozinha, arrastando uma mala (ainda que pequena), com uma mochila nas costas, uma bolsa a tiracolo e duas sacolas, porque é muito difícil resistir e não fazer umas comprinhas durante o percurso. Não pretendo fazer aqui um relatório da viagem, mas dar algumas outras dicas, partilhar opiniões.
  •  Temperatura: assim como no ano passado, fui a Paris no começo do outono. Como tenho medo de avião, não gosto de consultar as previsões meteorológicas para não aumentar minha ansiedade caso anunciem tempestades, nuvens espessas, ventos fortes e outras temeridades do tipo. Mas, por experiências anteriores, sei que nesse período do ano, na Europa, costuma chover e as temperaturas caem um pouco, então levei roupas de verão e de meia-estação. Resultado: entulhei minha pequena mala e a mochila com coisas absolutamente desnecessárias, sobrecarreguei meus braços e minhas costas. Se tivesse procurado me informar, saberia que esse ano, excepcionalmente, nos dias que coincidiram com os da minha viagem, estaria fazendo um calor terrível. O verão superou os limites de sua própria estação e invadiu o outono. Foi ótimo, mas eu não precisaria carregar tanto peso.
    O Palácio dos Papas, em Avignon
  • Funcionamento dos museus: apesar de estar levando um guia com roteiros ótimos, que até já indiquei em outro texto, não observei uma coisa fundamental: os dias certos de funcionamento dos locais que queria visitar. Cada um deles fecha em um dia da semana diferente, enquanto que aqui no Brasil, em geral, os museus fecham somente às segundas feiras. Isso vale para todas as localidades visitadas e eu tive algumas frustrações ao dar com a porta fechada como, por exemplo, no Museu Picasso, em Paris, que não abre às terças feiras.  
    O charme de Aix-en-Provence
  • Turistas brasileiros: no trem, indo de Paris para Avignon, pensei que iria relaxar-me, curtir a paisagem, ler, talvez até dar uma cochilada, tudo o que não consigo fazer no avião. Qual o quê! Um grupo de torcedores de algum país nórdico entrou no vagão fazendo o maior estardalhaço. Pelo cheiro que empestou o recinto, eu pensei que eles estavam voltando de uma esbórnia de mais de uma semana. Depois fiquei sabendo que eles (uns 20 homens enormes) estavam indo para Marseille para assistir a uma partida de futebol. Quando eu já estava a ponto de me levantar e pedir que eles dessem um tempo, fizessem um pouco de silêncio para que o restante dos passageiros pudessem descansar, me veio à cabeça que, como aquele, poderia ser um grupo de torcedores de algum time brasileiro, batucando um pagode, querendo mostrar, na maior altura, a “alegria e a irreverência” do ser brasileiro. Enchi-me de tolerância, levantei e fui para o carro-restaurante tomar uma demi bouteille de vinho, que daria mais certo.
Eu conto isso porque tenho visto turistas brasileiros fazendo coisas bastante desagradáveis lá fora, como barulho excessivo em locais onde geralmente as pessoas falam baixo, tomando atitudes arrogantes com funcionários de hotel, restaurantes e aviões, faltando com o respeito à cultura e aos costumes de cada lugar... Enfim, é sempre possível ser alegre e expansivo, sem ser mal educado.
A ponte de S. Benezet, sobre o rio Rhône
  • Roteiro: Eu escolhi meu roteiro de viagem para a Provença a partir de reportagem publicada em uma revista, na qual eram apresentadas várias sugestões, com as respectivas operadoras de turismo. Escolhi um deles de acordo com as minhas disponibilidades financeiras e a possibilidade de fazê-lo de trem. Fiz apenas algumas alterações relacionadas ao número de dias em cada localidade e embarquei para minha aventura solitária, com algumas poucas informações na bagagem. A viagem foi ótima, as cidades são maravilhosas, mas poderia ter sido bem melhor.
1- Eu poderia ter me informado mais sobre as três localidades que ainda não conhecia, quais sejam: Avignon, Aix-en-Provence e Nice. Todas elas possuem características históricas, culturais e até arqueológicas muito peculiares, um perfil muito acentuado. São informações fundamentais para que você se decida com clareza quanto tempo deve se dedicar a cada lugar, onde montar uma base a partir da qual poderá expandir sua viagem, por meio de pequenas excursões, pois, afinal, assim como as Minas (Gerais), as Provences também são muitas. A propósito, existe um site fantástico (só descobri depois que cheguei) com absolutamente todas as dicas sobre esta atrativa região da França: http://www.naprovence.com/ .
2- Poderia ter ficado mais atenta à localização dos hotéis, pois isso prejudicou um pouco minha estadia em Aix-en-Provence. O hotel era fora de mão, distante do centro histórico. É bom a gente levar isso em conta, pois táxi em euro não é barato, e estamos tratando de mulheres que viajam sozinhas. A má localização do hotel dificulta ainda mais as nossas possibilidades de passeios noturnos.
A Praça Masséna, em Nice
3- Poderia ter escolhido outra época para viajar, na primavera ou verão, quando a região fica mais bonita e são programadas muitas feiras e atividades culturais, como os festivais de música. Por outro lado, durante os meses de setembro e outubro o afluxo de turistas é menor, os preços caem um pouco, pois é baixa temporada, e o clima é mais ameno, em relação ao calor e ao frio.

  • Pequenas Dicas:
- A partir da segunda quinzena de outubro as atividades culturais começam novamente a animar a Provence, como o festival de blues em Avignon.
- Se a sua hospedagem inclui o café da manhã, nos hotéis da França você poderá pedi-lo no quarto, sem qualquer acréscimo. Isso é ótimo, pois, podemos dormir até mais tarde e não precisamos nos arrumar correndo para descer. Em geral, esse serviço é disponibilizado até as 11 horas.
- As opções de saladas na região são ótimas, inclusive a Niçoise (de Nice). São muito bem servidas, acompanhadas de pães, e podem substituir uma refeição.
O belo Mercado das Flores
- Fique atenta, pois, a maioria dos restaurantes, entre as 15 e 19 horas, não servem refeições. Alguns chegam mesmo a fechar. Nas cidades menores, do interior da França, isso é realmente um problema.
- Em Nice, não deixe de ir ao Mercado das Flores, em torno do qual existem vários restaurantes, de especialidades variadas, e muitas lojinhas simpáticas. O local, à noite, também é bem animado.
- Leve várias echarpes para colocar no pescoço e não se preocupe em combiná-las com a roupa que estiver vestindo. Quanto mais descombinada, mais fashion.
- Dizem que Marseille é uma cidade com alguma incidência de violência (mas nada que se compare às nossas capitais). Com relação às outras localidades, pode viajar tranqüila.
- Avignon está localizada na região onde se fabrica os famosos Chateauneuf du Pape: aproveite para degustá-los. Ainda em Avignon, se quiser fazer uma refeição tipicamente francesa, gastando um pouquinho mais, vá ao restaurante La Tour. Um lugar lindo, uma comida deliciosa e um atendimento impecável. Fecha às segundas-feiras (25 rue Carnot).
- Aix-en-Provence é onde está localizada a fábrica da L'Occitane. Existe, inclusive, a possibilidade de visitá-la e comprar os produtos a preços menores que na loja situada na cidade. Existem, contudo, outras marcas de sabonetes e águas de colônia também muito boas, a preços mais em conta, como a Collines de Provence.
- Em Avignon e Nice fiquei hospedada nos hotéis da rede Mercure: nota 10 para a gentileza dos funcionários e a qualidade dos serviços.
- Sem que eu soubesse, minha agente de viagens comunicou à representação da TAP em Belo Horizonte que eu estaria viajando sozinha e que não me sentia muito "confortável" durante os vôos, solicitando que, se possível, me colocassem nos assentos dianteiros para que eu pudesse ficar mais próxima dos comissários. Ao que parece, o apelo foi atendido à risca e todos os funcionários, dos quatro trechos que fiz (BH/Lisboa - Lisboa/Paris - Nice/Lisboa - Lisboa/BH) foram extremamente atenciosos. E mais: na volta, vindo de Lisboa para Belo Horizonte, a companhia aérea me fez uma maravilhosa surpresa, me colocando na classe Executiva. Eu até esqueci meu medo de avião. Obrigada TAP!

 Alguns lugares imperdíveis para quem gosta das belas artes
- Avignon: Além do monumental Palácio dos Papas (século XIV), o Petit Palais que possui uma das maiores coleções de arte renacentista, a começar pela Virgem com o Menino, de Sandro Botticelli, entre outras obras maravilhosas (quando terminar, não deixe de tomar um delicioso chá no jardim do Palácio). Ainda em Avignon, o charmoso Musée Angladon, onde, entre outras obras famosas, está a linda Blusa Rosa, de Modigliani.
- Aix-en-Provence: você pode visitar os lugares onde Paul Cézanne viveu.
- Nice: Dedique uma parte de seu dia ao Museu Matisse, que está localizado em um belíssimo parque, onde também estão as ruínas de uma antiga cidade romana (14 AC). O Museu Chagall, junto ao Museu de Arte Contemporânea, com suas 17 grandes telas alusivas ao Antigo Testamento, também é parada obrigatória.

3 comentários:

  1. Oi Giselle, descobri o seu blog através do link que criou para o meu. Muito obrigada por tê-lo citado na sua excelente matéria. E caso nao se incomode, e se fosse possivel, gostaria de publica-la no www.naprovence.com. Textos como o seu so enriquecem o site. Fico aguardando a sua autorizaçao e quem sabe nao tomamos um café em Aix da proxima vez? Um abraço! (site@naprovence.com)

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  2. Giselle, gostaria de parabeniza-la pela generosidade de compartilhar suas experiências com qualquer um que queira se aventurar sozinho. Seus textos são sinceros, realistas,sem perder a doçura ! Além disso, que é o mais importante, enche de coragem aqueles indecisos viajantes, iminentes aventureiros solitários, que estão penas precisando de um empurrãozinho (seu, é claro) para descobrir o mundo!!!

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  3. Giselle amei suas informações. Estou planejando ir para a Provence em maio de 2018 e desde já já estou planejando para fazer o meu vôo solo!

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