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Aqui é a terra do fim do mundo
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Acabo de voltar de uma viagem à
Patagônia argentina, mais especificamente a Ushuaia e a Calafate, nas
províncias de Terra do Fogo e Santa Cruz, respectivamente. Pela primeira vez vou
tentar escrever uma versão também em espanhol, melhor dizendo “portunhol”,
atendendo às solicitações de minhas novas amigas argentinas (Cristina e
Elizabeth – mãe e filha) e espanholas (Graciela e Alícia – irmãs) que conheci
durante os passeios. Espero que elas e outras compreendam.
Essa foi uma viagem para a qual
há mais de vinte anos eu me preparava, quando ainda não tinha dinheiro nem
coragem para fazê-lo sozinha. Minha mãe, quando esteve na Rússia, chegou a
trazer um lindo gorro preto, de pelo (usado agora, pela primeira vez), e também
um xale comprido de lã, muito leve, mas que esquenta muito. De repente, há
coisa de dois ou três meses, consultando alguns guias turísticos, ouvindo
relatos de pessoas conhecidas, decidi que a hora era agora.
E o que dizer da viagem? Isso é
quase impossível. Dizer que vi lugares e coisas maravilhosas, é pouco. Uma
experiência mágica, transcendental, dizem alguns. Eu, não tenho palavras. Às
vezes, diante de um enorme glacial, eu me sentia, realmente, frente ao altar de
Deus, muito pequena diante desse nosso velho mundo.
Como eu intuía, foi uma viagem
absolutamente tranquila e segura. Contratei os traslados do aeroporto ao hotel
(e vice versa) em Buenos Aires e, tanto em Ushuaia quanto em Calafate, as
empresas que nos recebem montam grupos fixos, de acordo com a localização dos
hotéis, de forma que, no primeiro passeio, você já tem a oportunidade de se
enturmar (ou não).
Um senão importantíssimo: os
preços na Argentina estão proibitivos, mesmo para países cujas moedas estão
mais valorizadas, como o Brasil. A velha rua Florida, em Buenos Aires, já não é
mais aquela... Para se ter uma idéia, o preço médio de um cafezinho varia entre
13 e 16 pesos (R$6,50 a R$8,00), o mínimo que você pagará por uma latinha de
cerveja é R$10,00. A entrada em um museu, sem nenhum dos recursos atualmente
utilizados, me custou 90 pesos (R$45,00), um passeio, de meio dia, pelos
glaciares, 800,00 pesos (R$400,00). Fazendo meus cálculos, eu conclui que, no
caso dos brasileiros, é preferível comprar dólares no Brasil e trocar por pesos
na Argentina (a, no mínimo, cinco por um); comprar os pesos no câmbio oficial
ou pagar no cartão. Levar reais para trocar lá, não foi uma boa.
Ushuaia ou baía profunda
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O porto, no Canal de Beagle
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Minha viagem começou por Buenos
Aires, o que não é necessário, pois, é possível viajar diretamente para
Ushuaia, na Terra do Fogo, uma ilha que tem de um lado o Oceano Pacífico, do
outro o Oceano Atlântico, ao Norte o Estreito de Magalhães[i]
e ao Sul o Canal de Beagle[ii].
Acho que foi Charles Darwin, que alí se empenhou no desenvolvimento da sua
teoria da evolução da espécie, quem alcunhou aquele local de “terra do fim do
mundo”.
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Cartaz dos aeroportuários do Atlântico Sul
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Capital da província de Tierra del Fuego, Ushuaia é também
considerada pelos argentinos como a capital das Ihas Malvinas. Seu nome, na
linguagem dos habitantes primitivos, quer dizer “baía profunda”. Estima-se a
região foi ocupada pelo homem há mais de 10.000 anos, e foi colonizada por
europeus a partir de meados do século XIX, os quais instalaram missões para a catequização
dos indígenas.
O crescimento da cidade se deu
lentamente, a partir de 1902, quando foi iniciada a construção de um grande presídio,
fato este que marcou muito a história do local. O presídio funcionou até 1947,
quando foi fechado pelo presidente Juan Domingo Peron. Atualmente, a edificação
abriga o Museu Marítimo e Ushuiaia, a cidade mais austral do mundo, ou a cidade
do fim do mundo, é um importante centro turístico, responsável por uma significativa
entrada de divisas para o País, pois recebe turistas de toda parte.
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Uma filhore de lobo marinho faz pose |
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Cormoranes, os pinguins que voam |
No inverno, é possível a prática
de esportes típicos da estação, como esqui, mas, em qualquer tempo, três
passeios são indispensáveis: uma turnê pelas montanhas, chegando até ao lago
Fagnano, avistando os Andes, no Chile; um passeio de barco pelo Canal Beagle,
para conhecer as ilhas dos lobos (ou leões) marinhos e dos passáros, com seus
pinguins e cormorões, e, finalmente, ao Parque Nacional. Nesse último caso, se for
durante a primavera ou verão, dispense o “trenzinho” e faça caminhadas pelos lindos
bosques, em contato direto com a vegetação e fauna da região: você não vai se
arrepender. E respire! Encha seus pulmões com aquele ar puríssimo e frio e
sinta a vida a lhe correr pelo sangue.
El Calafate, entre o gelo e as
estepes
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Cidade construída às margens do lindo e imenso Lago Argentino |
El Calafate é uma pequena cidade
localizada na província de Santa Cruz, próxima à fronteira com o Chile, com
aproximadamente 5.500 habitantes, distante cerca de 270 Km de sua capital, Rio
Gallegos, construída às margens do Lago Argentino. Em termos de história, o que
se pode dizer é que está em uma região tradicionalmente ocupada por grandes
estâncias, sobretudo de proprietários ingleses, dedicadas à criação de ovelhas.
Foi também uma região marcada pela prospecção de petróleo, o que hoje não é
mais permitido. A minha primeira impressão de El Calafate foi a de que se
tratava de uma cidade cenográfica, tudo certinho, com apenas uma longa avenida
dedicada aos bares, restaurantes e comércio.
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O Glaciar Perito Moreno com mais de 60m.de altura sob o nível
do lago e 5km de extensão
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A maior atração é o extraordinário Parque Nacional dos
Glaciares, fundado em 1937 e declarado patrimônio da humanidade pela Unesco, em 1981. Possui extensão
de 725 mil hectares. Nele se localizam os glaciares Perito Moreno, Upsala,
O'nelli, Spegazzinni, entre outros. São imponentes sentinelas de neve
depositados por séculos em suas origens, no alto da cordilheira dos Andes. Descem por
extensões que chegam a 170 km. São formados basicamente de neve compactada,
possuindo milhares de nuances do branco ao azul. Na sua maioria, terminam no lago
Argentino, onde se fragmentam desde farelo de gelo a grandes icebergs,
descendo lentamente pelo leito do lago até seu derretimento. Os glaciares movem-se
até um metro por dia, atritando-se violentamente com o terreno, moldando-o e
lançando no lago sedimentos finíssimos, que ficam em suspensão na água,
formando o leite dos glaciares. [iii]
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Próximo aos glaciares, a temperatura vai abaixo de zero |
Em qualquer época faz frio
Ushuaia tem
um clima frio e úmido com bastante vento durante todo o ano. No inverno, que vai de junho a outubro, a temperatura varia de -6º C e 4º C e,
no centro de Ski Cerro Castor a temperatura pode chegar a -15ºC. Entre os meses
de outubro e março, a temperatura está mais quente e agradável, com temperatura
média de 10oC.
Nesta época, os dias ficam mais longos, com duração de até 18 horas. Esse
período é ideal para se realizar trekkings
e passeios de barco. A pinguineira pode
ser visitada entre os meses de dezembro e fevereiro, quando são registradas
temperaturas que variam de 6ºC a 18ºC.[iv]
Já El Calafate possui clima frio, com média anual de sete graus, temperaturas
máximas por volta dos treze graus e mínimas por volta dos dez abaixo de zero.
Como vocês podem constatar, mesmo viajando no mês de novembro, eu peguei
muito frio, sobretudo nos passeios de barco. O vento, quando a embarcação se
aproxima dos icebergs ou glaciares, é literalmente gelado: queima o rosto e as
mãos. Portanto, algumas dicas específicas para o frio, para que a mala não
fique muito pesada, em uma viagem pequena, em torno de oito dias (o importante
é saber combinar tudo, dando maior versatilidade às roupas):[v]
1-
Para
os pés: uma bota
apropriada para andar na neve ou na chuva, impermeavel, forrada de lã[vi],
três meias de algodão, uma palmilha de pele, um tênis de cano alto.
2-
Para
as pernas: dois fusôs de
malha grossa, uma meia calça grossa.
3-
Para
o corpo: três blusas
quentes, de manga comprida; dois xales de lã[vii],
um chachecol, um casaco alcochoado ou similar (impermeável), tipo corta vento,
um sweter de lã grossa, um casaco de cashemire.
4-
Para
a cabeça: dois gorros de
lã.
5-
Para
as mãos: um par de luvas
de lã ou couro.
6-
Um
kit de roupa térmica: calças, blusa e luva[viii]
Minhas amigas amigas espenholas (Alícia e Graciela), seguiram de El Calafate para Bariloche e, de lá, iniciaram a aventura de chegar à Patagônia Chilena, atravessando os Andes em quatro ônibus e três barcos. Quando obtiver as informções que solicitei a elas, vou postar, pois, sei, é um passeio também fantástico.
[i]
A primeira viagem
documentada do homem branco ao extremo sul do continente americano foi
realizada por Fernão de Magalhães em 1520, embora já tenha sido sugerido que o europeu já
conhecia a região antes disso. De qualquer maneira, foi Magalhães quem deu o
nome de Terra do Fogo à região, tendo avistado fogueiras acesas pelos índios
nas margens do estreito que hoje leva seu nome. Wikpédia.
[ii] O canal deve seu nome ao navio britânico HMS Beagle, que fez parte de duas
missões hidrográficas nas costas meridionais da
América do Sul no início do século XIX, levando a bordo no
naturalista Cherles Darwin. Trata-se de um estreito que separa as ilhas do
arquipélago da Terra do Fogo, no extremo sul da América do Sul, e também o
Chile da Argentina. Tem aproximadamente 240 km de comprimento, e sua largura
mínima é de cerca de 5 km.
[iii] Wikpédia.
[iv] www.adventureclub.com.br.
[v] No meu caso, levei uma mala pequena, uma mochila
pequena (na qual coloquei o casaco alcochoado e as botas, notebook, câmara
fotográfica, etc.) e uma bolsa de mão.
[vi] Comprei uma bota de cano baixo, masculina, um número
maior, por um preço ótimo, em uma loja que vende acessórios para montaria e
hipismo.
[vii] Os xales protegem as costas e também o pescoço.
[viii]
Essas roupas absorvem o suor, não ficam com cheiro (podem ser usadas por até uma
semana) e devem ser usadas por baixo da
roupa usual. Ao contrário, as segundas-pele ou meias de nylon, vão fazer que
você se sinta gelada pelo suor. Você pode compra-las em lojas especializadas em
esportes de inverno.